terça-feira, 20 de novembro de 2007

O poeta pede ao seu amor que lhe escreva

(Blue nude, por Picasso)

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Garcia Lorca

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A tradução acima foi feita por William Agel de Melo

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O amor é outra coisa

O amor não é algo que te faz sair do chão
e te transporta para lugares que nunca viste.
O nome disso é avião.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que escondes dentro de ti e guardas na intimidade.
Isso chama-se vibrador tailandês de alta qualidade.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te faz perder a fala e a respiração.
O nome disso é bronquite asmática e ataca o pulmão.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que chega de repente e te transforma em refém.
Isso chama-se talibã, entre Israel e Belém.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que voa alto no céu e deixa a sua marca por onde passa.
Isso chama-se pombo com desinteria e se te apanha é uma desgraça.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que tu podes prender ou abandonar quando bem entenderes.
Isso chama-se cão, e se o fizeres não tem perdão.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te iluminou,
pôs-te ver estrelas e deixou em ti a sua marca, fez-te feliz.
Isso chama-se cirurgião e o que deixa é cicatriz.
O amor é outra coisa.

O amor não é coisa que se perca,
ou que se faça questão.
O nome disso é prolocolo ou declaração.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que desapareceu e que,
quando encontras, muda tudo o que vês.
Isso é o controle-remoto da TV.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que talvez muita gente desconheça,
e que vem rápida e impiedosa te fazendo perder a cabeça.
Isso se chama guilhotina.
O amor é outra coisa.

Autor Desconhecido

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Correções

Esta semana descobri que dois textos desse blog estavam com a autoria errada. São (ou melhor, eram) eles: Navegue que é de autoria de Silvana Duboc e antes constava como de Fernando Pessoa e Quase de autoria de Sarah Westphal que estava atribuído a Luis Fernando Veríssimo.
Existem muitos textos bons circulando na Internet com autoria atribuída a outras pessoas, por isso procuro sempre verificar a procedência. Contudo há casos, como esses acima, em que o texto é tão difundido com o erro que demora até se descobrir a verdade.
Com a sensação de dever cumprido, despeço-me, por ora!


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Ao coração que sofre

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.

Olavo Bilac

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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Que é simpatia?

Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!


Casemiro de Abreu
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Cien sonetos de amor (nº 44)

Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.

Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.

Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.

Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.

Pablo Neruda

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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Estamos com fome de amor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como:
"Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.
Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer
ridículos, abobalhados, e daí?

Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando
bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele.

Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz !

Arnaldo Jabor

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Contribuição da Aninha.
Ela viu que não tinha
nenhum texto do Arnaldo aqui e escolheu esse
a dedo!!!
Um bjo no coração lindinha!!!
Obrigado!!!


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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm
lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais....

Vinícius de Moraes

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