Dos homens que se casam cedo pode-se dizer o mesmo que dizemos dos vestibulandos obrigados a escolher uma carreira para toda a vida quando ainda não sabem escolher uma gravata. Falta-lhes a maturidade que só terão quando conhecerem melhor a vida e a si mesmos, e escolherem a segunda. A segunda mulher é como a revelação de que a sua vocação, afinal, não era a engenharia de sistemas, era o paisagismo. Ou que você casou com uma idealização sexual, ou com a sua mãe, ou com outra alucinação igualmente provisória.
Antigamente só se casava uma vez, mas aí a segunda mulher era a amante. O homem vivia com o engano e com a correção ao mesmo tempo. Para não dizerem que a tese é machista, ela também serve para mulheres, com uma complicação: o segundo marido só é o certo para a mulher se ela também for a sua segunda.
Se ela for a primeira ou a terceira - ou a quarta ou a quinta, etc. - não funcionará. Ele será o seu segundo, e portanto teoricamente o certo, mas com um defeito grave: ainda estará procurando a sua segunda. Ou já a encontrou e não a reconheceu, e não se contentará com mulher alguma.
Dirá você que conhece primeiros casamentos que deram certo. Certifique-se de que não há nenhum tipo de simulação, que os dois só não partiram para a segunda tentativa por comodismo, ou se não existem segundas ou segundos clandestinos em algum lugar. Se a felicidade for real, é porque aconteceu uma anomalia prevista na tese: a dos homens que casam com a segunda na primeira vez. É raro, mas acontece.
Luis Fernando Veríssimo
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